quarta-feira, 16 de julho de 2008

Paralisia cerebral: associações justificam falta de cirurgias com custos elevados

A Federação das Associações Portuguesas de Paralisia Cerebral (FAPPC) acusa os hospitais de não realizarem determinadas cirurgias em crianças com paralisia cerebral devido a custos, enquanto um neurocirurgião justifica com a falta de dinamização das equipas das unidades pediátricas, noticia a Lusa.

Em causa está uma cirurgia que consiste na colocação de uma pequena bomba de infusão por debaixo da pele do abdómen para libertar um medicamento, fazendo diminuir até 92 por cento a rigidez muscular (espasticidade) destes doentes.

A presidente da FAPPC, Graça Andrade, aponta a não realização destas cirurgias abaixo dos 16 anos devido à «falta de material para implantação da bomba de infusão que, dado o seu custo, não é adquirida pelos hospitais portugueses».

«Ainda não existe um hospital em Portugal que possibilite o acesso a esta cirurgia em crianças com paralisia cerebral com menos de 16 anos, apesar do vasto número de crianças com indicação médica para serem sujeitas a esta terapia», afirmou.

«É também necessário incentivar os serviços médicos a criar condições para realizar esta cirurgia em prol da melhoria de qualidade de vida de todas as crianças portuguesas que sofrem de paralisia cerebral», referiu a dirigente da FAPPC.

Graça Andrade acrescentou que se esta terapia for realizada entre os seis e os 12 anos «evita também as deformidades quando as crianças se tornam adultas», originando poupanças a nível da medicação, cirurgias ortopédicas e reabilitação.

«Dinamizar os profissionais»

Em declarações à Agência Lusa, o neurocirurgião do Hospital dos Capuchos, José Brás, indicou que esta técnica existe em Portugal há cerca de uma década e é efectuada em vários hospitais portugueses, nomeadamente em doentes adultos com paralisia cerebral e também com esclerose múltipla.

Referiu, também, que para a prática da técnica em idades pediátricas «não há pessoas familiarizadas, rotinadas e com conhecimentos suficientes».

«Há falta de enquadramento de condições técnicas e humanas» para efectuar as cirurgias, argumentou o médico, acreditando que o custo não será o «factor prioritário» para travar as cirurgias em crianças, embora «envolva valores significativos». «É uma questão de dinamizar os profissionais», referiu.

Concentrar serviços

Por seu lado, o presidente da Associação de Administradores Hospitalares, Pedro Lopes, referiu em declarações à Lusa que, quando existentes, as soluções cirúrgicas devem ser consideradas, assim como os seus custos, mas que a factura «não pode ser determinante». «Não pode ser por custos que um hospital deixa de realizar uma cirurgia», disse.

O responsável afirmou ainda que «não se deve dispersar» este tipo de actividades específicas por todo o país, mas antes concentrar em três ou quatro unidades. «Tem que se definir um perfil», argumentou Pedro Lopes, defendendo a existência de apenas algumas unidades com capacidades técnicas e altamente diferenciadas.

Todos os anos surgem aproximadamente 200 a 250 novos casos de paralisia cerebral em Portugal e estima-se que 80 entre cada 100 pacientes de paralisia cerebral têm espasticidade.

Fonte: IOL Diário

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