quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Carta do Frederico

Em Junho conheci o Frederico que teve a ajuda de algumas pessoas quando soube da doença e como agradecimento lhes escreveu esta carta, com algum atraso aqui partilho as palavras do Frederico:

Há cerca de uma ou duas semanas senti que algo em mim tinha mudado e não para melhor…
A mãe pensava que podia ser a mania das dietas ou algo do género pois se eu comia algo vomitava logo a seguir outra coisa não podia ser. Exames atrás de exames se seguiram e aparentemente não estava nada escrito de concreto sobre o que eu tinha, mas o que é certo é que os vómitos e as tonturas não paravam. Fui ao António Leitão para tentar ver o que era e tomei conhecimento de uma doença que ouvi falar muito por alto, Esclerose Múltipla. Muitas coisas vieram à minha cabeça em tão pouco tempo, e não parava de pensar nos amigos e na minha família, pensando muito nos meus sobrinhos.

Pensei com a ignorância que tinha acerca da doença que estava a perder ou deixar escapar aquilo que eu mais gosto na vida, VIVER! Recebi a notícia de tinha de ficar internado no Patrocínio, o que para mim era uma novidade, pois com 21 anos e apesar de ter perdido por duas vezes os sentidos em jogos de Rugby, o hospital era apenas para visitas ou consultas. Pensei logo que ia ficar num quarto com pessoas bastante mais velhas do que eu e que certamente não iria dormir aquilo que precisava. Tal não foi o meu espanto quando recebi um quarto individual com excelentes condições para eu ficar internado. Estava a correr tudo bem até ao momento, mas o que me preocupava era o pessoal médico que neste país está muiuto estereotipado como sendo pessoas mais velhas e pouco simpáticas não tratando os doentes da maneira que estes merecem ou precisam.

Comecei a familiarizar-me com o quarto e a arrumar algumas coisas, entre as quais a televisão que a minha mãe e a minha irmã Rita trouxeram do meu quarto. Era tudo tão diferente e tão novo para mim que, apesar de estar sempre bem disposto, estava bastante assustado e a meter muitos macacos na minha cabeça que me deixavam ainda pior. Comecei por conhecer algumas caras que me ia acompanhar ao longo do tempo e vi logo que as caras feias e pessoas antipáticas era coisa que ali não existia. Seringas e comprimidos, experimentei de tudo para o tratamento resultar. Mas do que mais me impressionou foi a comida e a quantidade de visitas que recebi. Os pratos eram deliciosos e mais uma vez vi que muita gente que diz coisas dos hospitais está muito enganada ou é muito esquisita mesmo.

Continuava a pensar se ia ficar por ali e deixar de ver as pessoas que amava. Rezei muito porque sabia que os avós e restante família não me queriam já ao pé deles. A fé e o facto de encarar a vida com um sorriso foram fundamentais para eu dar um passo em frente e ver que aquilo era uma doença que não matava mas às vezes podia moer. Sinto que lá de cima tinha tanta ajuda como a que tive no hospital. Apesar de saber que era e sou um chato, não me calava e falava com toda a gente de igual maneira, não olhando a cargos ou idades, sempre respeitando as pessoas. A dona Gestrudes e as minhas fugas naquele Ferrari que me dispensaram para os exames, as conversas sobre o fantástico momento do Benfica do enfermeiro Paulo, a simpatia das enfermeiras Ana Lisa, Catarina e Tânia, as senhoras da limpeza, as senhoras auxiliares, o Sr. Daniel que me fez a barba, a dona Deolinda, a dona Rita e todos aqueles que mesmo sem citar o nome foram bastante importantes para mim. Como foi visível, sou uma pessoa introvertida, mal disposta e que não gosto nada de falar.

Peço desculpa por vos ter chateado muito e agradeço muito do fundo do coração tudo o que fizeram por mim e deixando que com fé e um sorriso na cara a vida é muito mais fácil!

1 comentário:

Anónimo disse...

Ao Frederico que também conheci no nosso almoço alentejano.
Comecei por ser seguida em Lx. pelo Dr. João Sá, que me encaminhou para o Dr. Leitão de Evora, fiquei assustada na altura, pois em Lx. eu estava a ser apoiada pelo Enf. Carlos e o Joel seu auxiliar, que me enchiam de mimos e carinhos e me explicavam como eu havia de aprender a viver com a esclerose múltipla.
Pedi ao Dr. Sá que não me abandonasse e ele aceitou, mas disse-me que eu em Evora pelo Dr. Leitão tb estava muito bem seguida.
Conclusão, fiquei com 2 Neuros, pois o custo hospitalar tinha que passar para Evora.
Logo na 1ª consulta com o Dr. Leitão eu perdi o medo do Hospital de Évora.Senti-me segura.
Acabei por dizer ao Dr.João Sá:- O Dr. tinha razão, sou muito bem atendida em Evora, posso deixar de vir a Lx? Ele disse k sim, e deixou-me muito confiante ao dizer-me que se eu sentisse necessidade, a sua porta continuaria aberta.
Agora Frederico tu não és nada chato, e és um amor de menino.
Beijos á Gang da Guida Tosca
E boas melhoras